quinta-feira, 17 de novembro de 2016




Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.


Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.


Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.




Sophia de Mello Breyner Andersen







...

Esta saudade de uma vida
que não dê em poema
Este receio de um poema
que antecipe a vida.



Ulla Hahn





O problema não é meter o mundo no poema;
alimentá-lo de luz, planetas,vegetação.
Nem tão-pouco enriquecê-lo,


ornamentá-lo com palavras delicadas,
abertas ao amor e à morte,
ao sol, ao vício, aos corpos nus dos amantes - 


o problema é torná-lo habitável, indispensável
a quem seja mais pobre, a quem esteja mais só
do que as palavras acompanhadas no poema.





Casimiro de Brito






Sinto-me toda igual às árvores:
Solitária, perfeita e pura.

Aqui estão os meus olhos nas flores,
Meus braços ao longo dos ramos:
E,no vago rumor das fontes, 
Uma voz de amor que sonhamos.



Cecília Meireles







Eu amo na frequência quem amam os loucos
Eu amo por necessidades de preenchimento
Eu amo até transbordar
Eu amo dos pés à cabeça e
Depois
Amo de ponta Del Leste
Ao agreste que anda meu coração
Eu amo tão desesperadamente
Tão verdadeiramente
Tão sem truques
Planos
E efeitos
Tão sem jogos e conceitos
Que sempre me sobra
Um vazio na mão.




Talles Azigon







«não conheci o desvario do amor senão quando me esforcei
de todas as maneiras por curar-me dele»




eu amava estes lugares onde as sílabas fulgem a floração do corpo

mas as palavras já não têm tal rosto

na tarde que finda
compõem ainda uma gramática -
a do silêncio




Soledade Santos







Guardas tudo de mim -
não sei se entendes
a ternura da dádiva - 
também não te pergunto...
Para quê?
O meu amor é isto:
desejar-te em segredo 
pouco esperar do que vier de ti
E nada te pedir.



Maria Aurora Carvalho Homem







- Vamos.
- Para o mundo?
- Para o mundo.

Há o risco de um pássaro a voar quando se atira um amor ao mundo.
Há mundos que não têm céu suficiente para acolher um amor assim.

Se quando olhas para o céu vês um espaço diminuto demais para lhe poderes lançar o que sentes: então é amor.




Pedro Chagas Freitas








Regresso devagar ao teu sorriso
como quem volta a casa...




Manuel António Pina








Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma
E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes
Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidade da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os Homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes
e calma.





Sophia de Mello Breyner Andresen



Inteira
no sabor
de uma dor.

Verdadeira 
na cor
de uma flor.

Exacta em cada momento,
e no instante do movimento
mentida.

-Vida



Vergílio Ferreira
in Diário Inédito





Se for preciso, irei buscar um sol

para falar de nós:
ao ponto mais longínquo
do verso mais remoto que te fiz

Devagar, meu amor, se for preciso,

cobrirei este chão
de estrelas mais brilhantes
que a mais constelação,
para que as mãos depois sejam tão
brandas
como as desta tarde

Na memória mais funda guardarei

em pequenas gavetas
palavras e olhares, se for preciso:
tão minúsculos centros
de cheiros e sabores

Só não trarei o resto

da ternura em resto esta tarde,
que nem nos foi preciso:
no fundo do amor, tenho-a comigo.
quando a quiseres.




(Ana Luísa Amaral)

terça-feira, 4 de agosto de 2015






Onde os abraços forem mais fortes,


demora-te.



terça-feira, 24 de março de 2015






Aprendemos então certas astúcias, por exemplo: é preciso apanhar a ocasional distracção das coisas, e desaparecer; fugir para o outro lado, onde elas nem suspeitam da nossa consciência; e apanhá-las quando fecham as pálpebras, um momento, rápidas, e rapidamente pô-las sob o nosso senhorio, apanhar as coisas durante a sua fortuita distracção, um interregno, um instante oblíquo, e enriquecer e intoxicar a vida com essas misteriosas coisas roubadas.




Helberto Helder@Servidões









Os velhos lamentavam-se por serem demasiado velhos. 
As crianças queixavam-se de que eram demasiado novas. 
No meio estávamos nós. Na altura certa para fazermos tudo o que diziam ser errado.



sexta-feira, 5 de dezembro de 2014






A cidade está deserta,
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, 
nos carros, 
nas pontes, 
nas ruas.
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga! Ora doce!
Pra nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura.



Ornatos Violeta, Ouvi dizer






sexta-feira, 21 de novembro de 2014




(...) amar-te é uma coisa simples.
(...) Amo-te por causa de ti. Não apesar de ti. É por causa de ti. Não há outra razão. Nem podia haver uma razão mais simples.
(...) é tão grande o meu amor por ti que até consigo amar-te sem dar por isso.
Já viste?



MEC, in "como é linda a puta da vida"



quarta-feira, 19 de novembro de 2014



mesmo calada, 
certifica-te que ainda tenho frases inteiras de amor para distribuir pelos nossos dias.
e, certifica-te também,
que vou tomar conta de ti a vida toda.



segunda-feira, 17 de novembro de 2014



Quero-te amar antes, muito antes. É quando o que é grande acontece. E não me digas lá porquê. Não sei. O que é grande acontece no eterno e o amor é assim, devias saber.


Vergílio Ferreira

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014


Fiquei a ver-te. 
Descansado. Perdido nas horas que passam sempre depressa. 
Afaguei-te o cabelo. Perdi-me nas sombras que te marcavam o rosto a cada vez que mudavas de posição. 
Descobri-te uma pequena mancha nas costas. Apaixonei-me outra vez. Fiquei, vagarosamente, a olhar para ela. Depois descobri-te um pequeno sinal,quase imperceptível, no teu rosto. Como é que nunca o tinha visto antes? Voltei a apaixonar-me. 
Perdi-me uma imensidão de tempo, que são sempre minutos apressados.
Decorei-te o desenho dos lábios. São perfeitos,foram, por certo, desenhados à mão. 
Enquanto tinha a mão aberta sobre o teu peito, e te sentia o pulsar do coração na palma da mão, reparei, acho que pela primeira vez, na tua maçã de Adão. 
Fiquei outros tantos minutos vagarosos, dos que passam a correr, a olhar para ela. Para ti. E ali estavas tu. Sem roupas. Sem máscaras. Sem nada que disfarçasse o que és ou do que és feito. 
Tu. Simplesmente tu. 
Desprotegido mas sem um rasgo de fragilidade. 
A nu com a luz que se agitava no quarto, a cada vez que mudavas de posição. 

E voltei a apaixonar-me.

E todos os dias, volto a apaixonar-me.






Regressam estes dias chochos, frios e tranquilos, para ficarmos horas a fio a fazer ronha e a conversar, por entre as carícias e o satisfazer do desejo que sentimos um pelo outro. Na penumbra, eu a olhar-te os olhos e tu a tentares acordar, um bocadinho estremunhada mas feliz. Alguém, sublime, criou os dias assim, imperfeitos no tempo, com as nuvens lá fora, mas perfeitos na temperatura, fria, para procurarmos o corpo um do outro, devagar, e o aconchego da pele sentida. Adoro o sentir da tua pele, já te tinha dito? 
Ronha, ronha e mais ronha, beijos amiúde e as mãos em movimentos ternos.
Apeteces-me, e é real.





As pessoas atropelam-se num caos frenético, imagino a ânsia que sentem para chegar, chegar a um lugar qualquer, a lugar nenhum. Também fui assim, já fui a eterna apressada que corre para fugir do tempo, esquecendo-se de o agarrar.
Sento-me no banco desgastado da rua, nunca irei perceber como se desgastou tanto, já que as pessoas nem o olham, apressadas com os seus afazeres, obrigações e vidas demasiado ocupadas com nada. Quem diria que eu um dia teria tempo para me sentar, observar o mundo a girar, as pessoas a correr, e apenas ficar à espera que chegues. 
Lisboa, minha cidade desde que me lembro, apesar de sempre lhe ter pertencido só recentemente é que consegui fazê-la minha. Não gosto de relações unidireccionais, faltam-lhes a intensidade desmesurada, faltam-lhes o tempo e o prazer de saborear o momento – aprendi isso contigo. Hoje posso dizer que Lisboa é minha, contudo, faz muito mais sentido dizer que é nossa, sem divisões ou fragmentações, porque hoje somos um só.
Cada pedra, cada parede mal pintada, mal amada, cada degrau desgastado ou banco ignorado, tudo é nosso, porque amar é a melhor maneira de ter, ainda que ter seja a pior maneira de amar. Mãos dadas num fim de tarde sobre a calçada Lisboeta, longos passeios apaixonados pela Baixa, promessas segredadas nos recantos do Chiado, noites de loucura no Bairro Alto e longas conversas no café do costume - todos os locais têm pedaços de nós, todos. Lisboa pertence-nos porque o tempo é nosso, ele parou só para nós. 
O tempo pára sempre para aqueles que amam, não é?

Meu querido, as ruas lisboetas são a nossa morada.









sábado, 28 de dezembro de 2013




A tua mão encaixa na minha, como se fosse feita só para mim.




quinta-feira, 21 de novembro de 2013






respondo de perfil
a quem de frente me imagina.



Alexandre O'Neill





quarta-feira, 20 de novembro de 2013





Devias estar aqui rente aos meus lábios para dividir contigo 
esta amargura dos meus dias partidos um a um 
(...)


Eugénio de Andrade